quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Bávaro Cavador














por Ricardo Gothe


O CAMPEONATO BRASILEIRO NO RIO E A CRISE



Todos nós defendemos teses faz tempo, independente do contexto externo. Imaginar o Futebol de Mesa uma ilha, é claro, não é possível. Nossa experiência no Rio Grande do Sul quanto aos campeonatos e a logística exigida, deslocamentos, relações de família, ausências profissionais, custos com viagens, inscrições, hospedagem, alimentação, etc, nos mostra o grau de dificuldade para a participação de uma grande maioria, não importa se para cavados ou lisos, e na atual conjuntura, de forma ainda mais evidente.

É bem verdade que existem diferentes realidades, impossível compararmos o que encontramos no nosso interior principalmente com o que vi em São Paulo recentemente por ocasião do Aberto com a Copa do IPÊ, isto como exemplo. São grandezas bastante diferentes, no campo financeiro, sobretudo.

A recessão que se abate sobre o país sublinhou as dificuldades, os obstáculos, e também estas diferenças, e elas serão sentidas no Brasileiro de cavados do Rio de Janeiro e em outras competições que virão.

Quem vive como eu o cenário político e econômico diariamente por força de suas atividades, observando também o setor privado que é quem gera os tributos que impactam diretamente na gestão pública, sabe que o ano de 2016 se avizinha ainda mais duro e mais perturbador, com arrecadação em queda acompanhando as baixas na produção, menor consumo, retração de mercados e suas consequências, como forte desemprego e achatamento de remunerações entre outras.

Se quisermos sair deste cenário e focar alienadamente o ambiente botonístico, então constataremos que na última década no Rio Grande do Sul, o público “andante” (os que viajam para competições) é quase sempre o mesmo, antes nos cavados, agora em maioria migrados para os lisos. Concentra-se parte em Pelotas, parte em Caxias do Sul, rareando em Porto Alegre e drasticamente diminuído em Rio Grande. É possível neste caso fazer-se um exercício mais detalhado, nome a nome, desta forma ficaria fácil confirmar este dado objetivo.

O Futmesa gaúcho nos cavados ganhou reforço importante nos últimos dois ou três anos com São Lourenço do Sul, Livramento, Canguçu e agora Jaguarão, mas são essencialmente linhas de abastecimento interno, não conseguirão a curto e talvez nem mesmo médio prazo alimentar o grupo de competidores que representará os gaúchos fora do Estado.

O Brasileiro no Rio de Janeiro irá presenciar provavelmente a menor representação do sul numa competição desta importância. Alguns dirão que a razão disto é os gaúchos darem mais importância as suas competições locais, outros alegarão algum desinteresse, e é verdade que sempre haverá um pouco disso tudo também no resultado final.

Mas analisando os números e nomes da última década, mesmo sem um método exatamente científico, mas com frieza de ânimos, não ficará difícil de verificar e entender que as condições externas rivalizam muito mais para o pouco número de gaúchos nas competições nacionais, do que as demais razões.

Outras condições, como o local dos eventos, distância, datas, sempre concorrerão para a análise destas equações, mas tenho certeza que a essência da diminuição deste fluxo é a escassez do poder econômico das pessoas, dos jogadores. Esta realidade se reflete em maior ou menor grau em todas as regiões do Brasil onde se joga Futebol de Mesa.

Temos tendência de reação a estas dificuldades procurando novas e mágicas soluções, e é bom que possamos sempre fazer alguns ajustes para mitigar eventuais crises e prejuízos, mas também é bom compreendermos que todos os processos são produtos de ciclos, e que como tal são digeridos pelo tempo, retornando aos bons e maus momentos, assim, em círculos, por vezes extensos, por vezes nem tanto.

De fato competições “customizadas” em todos os seus itens não significam exatamente insucessos, ou projeção de qualquer desarrumação de um esporte, mas apenas mais um momento como tantos outros que vivemos ao longo de décadas, desde que Geraldo Décourt deu a todos esta missão de se apaixonar pelo Futmesa. Alguns em solo gaúcho, lá em 2003, profetizavam o fim dos cavados, mas basta um Lagoão, um Fronteirão ou um Estadual para que as profecias se tornem visivelmente frágeis.

Não é momento certamente de criarmos vilões de todo tipo, é nas dificuldades que precisamos exercitar a arte da conquista, de cativarmos, e isto passa pela nossa capacidade de refletir adequadamente sobre os desafios comuns a todos e os desafios específicos à vida de cada um.  

Os ciclos? É preciso respeitá-los, é preciso vive-los.

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Amanhã teremos:

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