quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Moqueca Capixaba







por Tiago Feliz


A coluna desta semana traz uma bela crônica do querido botonista Sérgio Aboudib.
Sérgio afirma que ela estará no livro que ele ainda vai escrever sobre futebol de mesa.
Espero que gostem.

Juan Carlos Ablanedo

"No inicio da década de 70 nascia na Espanha, mais precisamente na região da Catalunha, em Barcelona, ainda sufocada pelo franquismo que emanava de Madrid, o menino Juan Carlos em uma família católica conservadora. Muito religioso, o jovem menino tinha por hábito frequentar diariamente a igreja de Santa Maria del Mar, embora não sendo a principal igreja de Barcelona, foi construída pelos moradores do bairro pobre da Ribeira, e considerada uma das mais belas da Europa. Não era tão imponente quanto a Catedral Basílica Metropolitana, nem tão famosa quanto a Sagrada Família de Gaudi, mas para Juan Carlos, havia nessa igreja um imenso tesouro. A imagem de Nossa Senhora del Mar, cálida e aconchegante, como um colo de mãe.

Nosso querido Juan Carlos sempre dirigia a sua "mãe" Santa Maria, pedindo ajuda para realizar seu sonho de ser Toureiro. Muito cedo tinha ficado órfão de pai e mãe, tendo sido um sobrevivente das ruas, acalentando esse sonho. Nascido vinte e poucos anos depois da morte de seu ídolo, Manolete, que aos 30 anos dos idos 1947 morreu vítima de uma chifrada na coxa direita proveniente de uma miúra.

Juan Carlos sonhava em vingar seu ídolo, que não teve a sorte de conhecer pessoalmente, mas que ainda estava vivo em toda a Espanha, pelas memórias de todos os seus fãs.

Em uma de suas viagens a Andaluzia, a fim de se inscrever em uma escola para toureiros, nosso herói viu seu sonho cair por terra. Logo na primeira tentativa de encarar um jovem bezerro, foi acometido por acesso de asma, que o deixou sem reação, virando um alvo fácil para o desembestado animal. Seu joelho acabou destroçado por uma cabeçada, o que lhe fez manco para o resto da vida.

Foi então no futebol. que o nosso guerreiro passou a mirar seus sonhos. E como manco, só lhe restava a posição de goleiro. Seus amigos sempre lhe chamavam, até porque não é fácil encontrar alguém que aceite nunca jogar na linha.

Devido a sua dificuldade em dar grandes saltos, especialmente para o lado do joelho estropiado, nosso goleiro desenvolveu um grande sentido de colocação. Parecia que a bola sempre o procurava. Estava sempre bem colocado. Não fazia grandes "pontes", mas também não fazia feio. Chegou mesmo a desenvolver uma certa fama.

No uniforme destacavam-se duas cores, o negro em homenagem ao grande arqueiro russo Lev Yashin,  conhecido na Europa como Pantera Negra, e nas Américas como Aranha Negra, devido ao seu uniforme todo negro, e o azul, em homenagem ao manto de Nossa Senhora. Trazia também o escudo com as cores da Catalunha, o que o fazia muito querido pela população local, devido ao sonho de independência há muito desejado, e ainda distante. Mas Juan Carlos sabia que as suas principais defesas, eram em função da medalha de Santa Maria del Mar que ele mandara costurar na camisa junto ao peito.

Por fim, Juan Carlos Ablanedo tinha certeza de que seu problema de joelho, jamais seria um impeditivo para a prática do futebol, por uma razão simples. Essa personagem belíssima é goleiro de futebol de botão."


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